Entrevista
Anderson Almeida, autor de “…com se fosse um deles”, finalista do Jabuti 2018
Finalista do Prêmio Jabuti 2018, com o livro “… como se fosse um deles: almirante Aragão – Memórias, silêncios e ressentimentos em tempos de ditadura e democracia” (Eduff, 2017), o historiador Anderson Almeida conversou com a equipe de Comunicação da Eduff sobre a emoção de concorrer a uma das mais importantes premiações literárias do país e ressaltou a necessidade de resgatar a trajetória de personagens como o militar Cândido da Costa Aragão, uma figura polêmica, simpatizante do ex-presidente Jango e contrário à ditadura, que marcou o Brasil de 1964 até 1985.
Para o autor, relembrar a história de Aragão é essencial para mostrar a complexidade dos militares. Para ele, diferentemente do que se pode pensar, não existia uma dualidade marcada e nem todos os militares apoiavam o regime. A biografia, que incorpora características do contexto histórico ao enredo, traz um personagem complexo que, segundo Almeida, é ideal para mostrar as múltiplas facetas do cenário da época.
Confira a entrevista completa com o autor de “…como se fosse um deles”:
O que significa ser indicado ao Prêmio Jabuti, na categoria Biografia?
É uma grande honra, visto que o Jabuti é considerado o maior prêmio da literatura brasileira. Sabemos que sempre há polêmicas, controvérsias, questionamentos, mas um prêmio que sobrevive há 50 anos tem seu lugar de destaque no cenário literário brasileiro de uma forma inquestionável. Parece clichê, mas um dia sonhei com isso (risos).
Qual é a sensação de concorrer ao lado de biografias como as de nomes como Anita Prestes e Jô Soares?
Uma alegria imensa. Imensurável. Mesmo sabendo que tenho poucas chances, só o fato de concorrer com escritores e escritoras desse gabarito traz uma enorme felicidade. Ainda figuram na lista Lília Schwarcz, Vavy Pacheco Borges, Arthur Xexéo… é muita gente boa.
Dentre os livros selecionados temos biografia de celebridades, autores, revolucionários. O que almirante Aragão acrescenta, como personagem, à lista de indicados?
Ainda não tive tempo de ler todos os concorrentes. O que tentei fazer através da abordagem biográfica de um personagem foi mostrar, analisar e interpretar o contexto no qual ele se movimentava. Então temos uma “biografia histórica” que não isola o sujeito, mas também não traz o contexto apenas como cenário. Ambos são construídos através de uma relação orgânica, visto que os contextos não existem sem os sujeitos e vice-versa.
Nesse sentido, Aragão nos apresenta dados ainda pouco investigados ou ainda inexplorados pela historiografia do golpe de 1964 e da ditadura que ele inaugura. Através de Aragão ficamos sabendo mais sobre o Corpo de Fuzileiros Navais, a política nacional nos anos 1950, a perseguição a militares que “disseram não” ao golpe e como, em determinados momentos, esquerdas e direitas silenciam sobre personagens e acontecimentos “inglórios”. Sua biografia atravessa praticamente todo o século XX e os embates ideológicos do período são apresentados através do biografado.
Qual é a importância de relembrarmos a história do almirante, no atual contexto político?
Analisar, interpretar e propor possibilidades para compreender uma trajetória de vida ou uma biografia como a do almirante Aragão nos ajuda a refletirmos sobre questões clássicas da historiografia brasileira – principalmente do Brasil Republicano – que dizem respeito à relação dos militares com o Estado. São questões que aparecem desde 1889…
No contexto atual, embora possa parecer difícil para os mais jovens, relembrarmos a história do almirante Aragão é de suma importância para não cairmos nas interpretações fáceis sobre os militares e as Forças Armadas, fazendo uma relação automática entre os fardados e o conservadorismo; entre as Forças Armadas e o autoritarismo.
Embora o horizonte não seja nada animador, é preciso cada vez mais levarmos os valores democráticos para nossas FA e produzirmos pesquisas que comprovam que o nacionalismo nunca foi monopólio das direitas. Existia e existe um nacionalismo de esquerda, antenado com as demandas das camadas populares, preocupado com a soberania nacional e uma maior e melhor distribuição de renda no país. Nesse sentido, não tenho dúvidas que a trajetória do Aragão é exemplar.